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  • Foto do escritorVital Psilo

A história da psilocibina na França (Parte 1)

Atualizado: 27 de set.




Neste especial de três partes, vamos explorar a história da psilocibina na França, país onde ocorreram os primeiros experimentos modernos com essa substância, no final dos anos 1950 e início dos anos 1960. Esse período reflete um momento importante em que as causas biológicas dos transtornos mentais estavam sendo buscadas. Na Parte 1, iremos nos concentrar nos relatos de Paris, que constituem as primeiras informações sobre os efeitos psicofisiológicos da psilocibina.


Roger Heim e a psilocibina Roger Heim, micologista e diretor do Muséum national d'Histoire naturelle (MNHN), demonstrava interesse nos efeitos de cogumelos psicodélicos. Sua jornada nesse campo remonta a 1924, quando ingeriu amostras de Amanita muscaria. Entretanto, foi em meados da década de 1950 que seu entusiasmo o levou ao sul do México, para acompanhar as expedições do etnomicologista Robert Gordon Wasson e sua esposa Valentina Wasson. Eles estavam em busca dos famosos cogumelos sagrados, conhecidos como “Teonanácatl”. Após um tempo, Wasson enviou esporos desses cogumelos a Heim, que conseguiu cultivá-los no laboratório de criptogamia do MNHN.

As primeiras experiências de Heim com a psilocibina Em 18 de maio de 1956, após receber uma carta de Gordon Wasson, Heim decidiu realizar sua primeira autoexperimentação com os cogumelos sagrados. Wasson havia relatado que os efeitos desses cogumelos eram inacreditáveis, e essa carta serviu como um convite irresistível. Nesse dia fatídico, Heim estava em sua casa e consumiu 120 gramas de Stropharia cubensis frescos. Porém, a dose escolhida foi puramente arbitrária, não refletindo os métodos tradicionais dos povos indígenas, que consumiam esses cogumelos em pares.

A experiência de Heim com essa dose relativamente alta o deixou “agarrado à lareira”, questionando a dose ideal. Ele voltou ao México em julho de 1956 para observar as quantidades usadas pelos curandeiros locais e ajustar as doses para os estudos futuros.

A busca pela dose ideal Em um autoexperimento com Psilocybe mexicana realizado em Paris, em 14 de abril de 1957, Heim ingeriu 32 cogumelos, alinhando sua dose com o que Wasson havia aprendido com os curandeiros mazatecas. Contudo, em um trecho dedicado ao Psilocybe mexicana no documentário francês “Les champignons hallucinogènes du Mexique,” ele afirma que "são necessários 35 cogumelos para experimentar os efeitos ideais dessa espécie". Heim também se tornou consciente da diversidade de efeitos individuais após a ingestão de Psilocybe caerulescens em uma cerimônia coletiva no México, onde descreveu uma "sensação excepcional de bem-estar" e uma "notável lucidez."

Explorando outros esquemas de doses No laboratório de criptogamia do MNHN, o micologista Roger Cailleux, assistente de Heim, também se envolveu em experimentações com Psilocybe mexicana. Entretanto, ele adotou uma abordagem diferente, optando por doses muito pequenas. Talvez influenciado pelos relatos de doses mais elevadas, Cailleux estava intrigado em explorar o limiar de atividade desses cogumelos. Em seu primeiro experimento, ingeriu apenas três exemplares secos de tamanho médio, totalizando 0,25 g. No segundo teste, aumentou a dose para 0,5 g. Esses experimentos com doses reduzidas permitiram-lhe concluir que a ação dessa espécie se manifestava principalmente por fenômenos visuais, sem qualquer sinal de "despersonalização".

Apesar disso, em um terceiro teste, Cailleux decidiu experimentar 2 gramas de Psilocybe semperviva desidratados. Nesse caso, ele lamentou ter sentido um "mal-estar indefinível, semelhante a um pesadelo". Essas variações nas doses exploradas por Cailleux revelaram facetas diferentes dos efeitos dos cogumelos, desde fenômenos visuais até sensações desconfortáveis.

A importância do “setting Além da questão das doses, Heim e outros pesquisadores começaram a perceber a importância do “setting” nas experiências com psilocibina. Um exemplo notável foi o poeta Henri Michaux, que participou de experimentos no Hospital Sainte-Anne. Michaux observou como a presença de médicos e observadores desconhecidos tornava as experiências desconfortáveis. Isso levou à reflexão sobre como o “setting” desempenhava um papel fundamental nas experiências psicodélicas.

Conclusão Esses relatos de Paris revelaram não apenas a importância da dosagem, mas também a influência do “setting” nas experiências psicodélicas. O psiquiatra Jean Delay argumentou que essas primeiras autoexperiências foram incompletas e careceram da supervisão cuidadosa de um "observador psicopatológico". Delay afirmou que não se tratava apenas de ter alguém disponível para tranquilizar o autoexperimentador, mas sim de garantir a coleta de dados científicos de forma sistemática.

No entanto, os pesquisadores franceses ainda estavam no início de sua jornada de exploração psicodélica, e muitas questões permaneciam sem resposta. (Continua na Parte 2)


Referência

Dubus Z, Grandgeorge E, Verroust V. History of the administration of psychedelics in France. Front Psychol. 2023 Sep 1;14:1131565. doi: 10.3389/fpsyg.2023.1131565. PMID: 37744588; PMCID: PMC10513055.

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