Vital Psilo
Artigo de opinião aponta risco de eventos adversos graves e falhas de estudos com a psilocibina
Atualizado: 3 de fev.

A pesquisadora Natalie Gukasyan do Johns Hopkins Center for Psychedelic and Consciousness Research compartilhou sua opinião a respeito dos resultados de um ensaio clínico de fase II sobre psicoterapia assistida por psilocibina (PAP) na depressão resistente. O ensaio foi publicado recentemente no renomado periódico científico The New England Journal Of Medicine e sugeriu uma eficácia razoável, porém, Natalie argumenta que houve preocupações sobre o potencial de eventos adversos graves como ideação suicida, observado em três participantes do estudo, cerca de um a dois meses após o tratamento com psilocibina.
Esses indivíduos apresentaram um risco maior de manifestar reações graves, pois tinham histórico de autolesão e tentativas suicidas, e ainda foram randomizados ao grupo que recebeu doses altas (25 mg). Devemos ressaltar que é evidente que os eventos adversos graves também podem ocorrer com os antidepressivos convencionais, embora o mecanismo pelo qual isso ocorra não esteja esclarecido.
Natalie ainda critica a falta de cegamento desse ensaio clínico, sendo um grande viés até mesmo dos artigos que estão sendo publicados atualmente, já que os efeitos subjetivos dos psicodélicos são óbvios o suficiente para permitir que os cientistas e participantes adivinhem a alocação nos estudos controlados. Isso foi reconfirmado em um estudo recente, que comparou a psilocibina com difenidramina (placebo ativo) em pacientes com transtorno por uso de álcool, no qual muitos participantes e membros da equipe de pesquisa identificaram corretamente sua condição de tratamento, após receber a primeira dose.
O renascimento psicodélico também está chamando a atenção dos veículos de imprensa que compartilham notícias sensacionalistas sobre essas substâncias, tratando-as como "drogas que curam tudo”. Diante disso, Natalie diz que os pacientes que não conseguiram encontrar alívio com outros tratamentos podem ver os psicodélicos como um último recurso. Se um participante de um estudo acredita que recebeu um tratamento muito “hypado” e mesmo assim não consegue notar uma melhora, ele pode se sentir desmoralizado e desesperançoso.
Esse artigo de opinião fez apontamentos importantes e destacou que os estudos futuros devem ser bem projetados para minimizar vieses e otimizar os cuidados da PAP, visando reduzir eventos graves em populações vulneráveis. O risco de suicídio deve ser cuidadosamente estudado, já que podem existir fatores contribuintes que são exclusivos desse tratamento.
Referência
Gukasyan N. On blinding and suicide risk in a recent trial of psilocybin-assisted therapy for treatment-resistant depression. Med (N Y). 2023 Jan 13;4(1):8-9. doi: 10.1016/j.medj.2022.12.003.