COMPASS Pathways sugere a eficácia e segurança da combinação de psilocibina e antidepressivos

O desmame de antidepressivos ainda é um requisito necessário para a participação em estudos envolvendo a psilocibina, devido à possibilidade desses medicamentos atenuarem seus efeitos ou causar reações adversas graves. Com o objetivo de investigar essa questão de forma prática, a empresa britânica COMPASS Pathways conduziu um estudo de fase II publicado no periódico Neuropsychopharmacology, da Springer Nature. Nesse ensaio clínico aberto, os cientistas investigaram a eficácia, segurança e tolerabilidade de uma dose única de 25 mg de psilocibina sintética (COMP360) como tratamento complementar aos inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) no transtorno depressivo resistente.

O estudo recrutou 19 indivíduos que já estavam tomando um único ISRS por pelo menos seis semanas, onde foram instruídos a continuar esse tratamento durante todo o período de acompanhamento. Os ISRSs permitidos incluíram citalopram, escitalopram, fluoxetina, paroxetina, sertralina, vilazodona e vortioxetina. Participantes que estavam utilizando múltiplas terapias antidepressivas ou que apresentavam comorbidades psiquiátricas graves ou risco de suicídio foram excluídos. O desfecho clínico principal foi a mudança na pontuação total da Escala de Avaliação de Depressão de Montgomery-Åsberg (MADRS) após três semanas.

As análises indicaram melhorias significativas na gravidade da depressão, o que contradiz as especulações anteriores de que a administração concomitante de psilocibina e antidepressivos diminuiria seus efeitos. Essas melhorias foram observadas desde o segundo dia do estudo até o final das três semanas de acompanhamento. Além disso, não foram registrados eventos adversos graves, como ideação ou comportamento suicida, e não foram observadas alterações clinicamente significativas nos exames laboratoriais ou eletrocardiogramas. Isso sugere que o perfil de segurança é comparável à monoterapia com psilocibina, e que o tratamento com essa substância é seguro mesmo quando administrado em conjunto com um ISRS.

Apesar dos resultados promissores, é importante destacar que o estudo apresenta limitações e possíveis conflitos de interesse, ressaltando a necessidade de investigações mais aprofundadas sobre a coadministração de psilocibina e antidepressivos, especialmente nos casos em que a interrupção desses medicamentos não é desejável. Portanto, ensaios clínicos maiores e controlados por placebo são necessários para obter uma compreensão mais abrangente dessas questões.

Referência

Goodwin GM, Croal M, Feifel D, Kelly JR, Marwood L, Mistry S, O'Keane V, Peck SK, Simmons H, Sisa C, Stansfield SC, Tsai J, Williams S, Malievskaia E. Psilocybin for treatment resistant depression in patients taking a concomitant SSRI medication. Neuropsychopharmacology. 2023 Jul 13. doi: 10.1038/s41386-023-01648-7. Epub ahead of print. PMID: 37443386.

Disponível na íntegra em:

https://www.nature.com/articles/s41386-023-01648-7#Ack1