Estudo associa o uso de psicodélicos a crenças alternativas

Pesquisas anteriores já sugeriram que os psicodélicos clássicos podem promover mudanças significativas e duradouras nos traços de personalidade e no bem-estar subjetivo. Apesar da falta de evidências de efeitos adversos na saúde mental decorrentes do uso de psicodélicos, há preocupações quanto à capacidade dessas substâncias de modular o processamento de informações e atitudes em relação a dados factuais.
Um estudo sueco publicado no periódico Nature Scientific Reports investigou a propensão à aceitação de fatos alternativos em uma amostra de 392 indivíduos, dos quais 233 relataram utilizar psicodélicos pelo menos uma vez na vida. Para realizar as análises estatísticas, os pesquisadores também consideraram os efeitos de variáveis como as características demográficas, condições psiquiátricas e uso concomitante de outras drogas entre os participantes.
Os resultados mostraram uma associação significante entre o uso de psicodélicos e crenças em fatos alternativos, bem como a crença específica de que fatos são politicamente influenciados. As análises indicaram que certos padrões de uso de drogas podem estar associados à aceitação de crenças não convencionais, como as teorias da conspiração, que estudos prévios relacionaram a crenças baseadas na intuição, em vez de baseadas em evidências. No entanto, não foram encontradas relações entre o uso de psicodélicos e a preferência pela intuição em detrimento de evidências, ao confirmar fatos. Entre outras drogas investigadas, apenas o álcool apresentou uma associação negativa com crenças em fatos alternativos.
Os autores ressaltam que a ideia de conspiração é uma questão social complexa, que pode até ser alimentada pela alienação social e pela marginalização de usuários de certas drogas. Portanto, a estigmatização dos usuários de psicodélicos e a subsequente polarização social podem criar condições que favoreçam a ideia de conspiração.
Em resumo, esses achados sugerem que o uso de psicodélicos pode estar ligado a estilos cognitivos que questionam fontes convencionais de informação, em vez de ideias conspiracionistas bizarras. Apesar das diversas limitações, este estudo representa um primeiro passo para preencher a lacuna de conhecimento sobre as associações entre diferentes padrões de uso de drogas e o processamento de informações. Porém, muitas perguntas sem resposta ainda persistem, e um seguimento deste estudo em uma direção multidisciplinar seria benéfica para uma melhor compreensão.
Referência
Lebedev AV, Acar K, Horntvedt O, Cabrera AE, Simonsson O, Osika W, Ingvar M, Petrovic P. Alternative beliefs in psychedelic drug users. Sci Rep. 2023 Sep 30;13(1):16432. doi: 10.1038/s41598-023-42444-z. PMID: 37777572.
Disponível na íntegra em:
https://www.nature.com/articles/s41598-023-42444-z