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Johns Hopkins diz que os psicodélicos reabrem a janela de aprendizado do cérebro de roedores
Atualizado: 22 de jun.

Durante um período específico do desenvolvimento cerebral, o sistema nervoso se torna mais sensível aos estímulos. Isso resulta em uma maior flexibilidade para modificações sinápticas e comportamentais, o que facilita o aprendizado de novas habilidades. Essas janelas de tempo são conhecidas como "períodos críticos" e os neurocientistas têm buscado maneiras de reabri-las para obter benefícios terapêuticos. Esses períodos críticos desempenham diversas funções importantes, como auxiliar aves a cantar, ajudar os seres humanos a aprender um novo idioma e facilitar a recuperação motora após um derrame.
Recentemente, pesquisadores da Johns Hopkins realizaram um estudo em camundongos que demonstrou que psicodélicos como psilocibina, ibogaína, cetamina, LSD e MDMA têm a capacidade de reabrir os períodos críticos do cérebro. O artigo, publicado em 14 de junho na revista Nature, fornece uma nova explicação de como os psicodélicos funcionam e sugere um potencial para tratar uma variedade mais ampla de condições, como derrame e surdez, além das condições que são atualmente estudadas, como depressão, vício e transtorno de estresse pós-traumático.
A equipe de pesquisa conduziu um teste comportamental para entender como os camundongos aprendem facilmente com o ambiente social. Eles treinaram os roedores para associar um ambiente de interação social a um ambiente de isolamento. Após administrar diferentes psicodélicos aos animais, os cientistas compararam o tempo gasto em cada ambiente e observaram a abertura do período crítico, permitindo que os camundongos aprendessem o valor de um ambiente social, um comportamento normalmente aprendido na juventude.
Para os camundongos que receberam psilocibina, o período crítico de aprendizado de recompensa social permaneceu aberto por 2 semanas. Com a cetamina, a janela durou 48 horas, enquanto o MDMA, LSD e ibogaína mantiveram o período crítico aberto por duas, três e quatro semanas, respectivamente.
Os pesquisadores descobriram que o LSD e a psilocibina abrem o período crítico por meio da ativação dos receptores de serotonina, enquanto o MDMA, a ibogaína e a cetamina têm alvos diferentes que ainda não foram totalmente compreendidos. Para explorar outros mecanismos moleculares, a equipe de pesquisa analisou o ácido ribonucleico (RNA) nas células dos camundongos e encontrou diferenças na expressão de 65 genes produtores de proteínas durante e após a abertura do período crítico.
Essas descobertas podem ter implicações terapêuticas significativas para a utilização de psicodélicos na prática clínica, bem como para o desenvolvimento de novos compostos para o tratamento de doenças neuropsiquiátricas. Embora sejam uma parte essencial da pesquisa científica, os resultados em animais nem sempre se traduzem diretamente em aplicações para seres humanos. Portanto, são necessários mais estudos clínicos para compreender o potencial terapêutico dos psicodélicos no reabertura dos períodos críticos do cérebro.
Referência
Nardou R, Sawyer E, Song YJ, Wilkinson M, Padovan-Hernandez Y, de Deus JL, Wright N, Lama C, Faltin S, Goff LA, Stein-O'Brien GL, Dölen G. Psychedelics reopen the social reward learning critical period. Nature. 2023 Jun 14. doi: 10.1038/s41586-023-06204-3. Epub ahead of print. PMID: 37316665.
Disponível na íntegra em:
https://www.nature.com/articles/s41586-023-06204-3