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  • Foto do escritorVital Psilo

Johns Hopkins diz que o uso de antidepressivos enfraquece o efeito da psilocibina

Atualizado: 12 de jun.



[Atualização do post de 25/01/2023]

Pouco se sabe como a psilocibina interage com outras drogas, embora dados de estudos clínicos e observacionais sugiram que seus efeitos psicodélicos são reduzidos pelos antidepressivos convencionais, de forma aguda e até mesmo por um período após o desmame. Diante disso, o Johns Hopkins Center for Psychedelic and Consciousness Research conduziu uma pesquisa online para investigar até que ponto os antidepressivos podem diminuir os efeitos da psilocibina.


O estudo incluiu indivíduos que fizeram uso concomitante de antidepressivos e psilocibina na forma de cogumelos secos ou que utilizaram essa substância em até dois anos após a retirada desses medicamentos. Em suma, os participantes (n= 2625) foram convidados a relatar a intensidade dos efeitos psicodélicos e se haviam ingerido psilocibina em três ocasiões distintas: antes de tomar um antidepressivo, durante o uso de um antidepressivo ou após interromper o antidepressivo. Também reportaram informações sobre a frequência de uso e quantidade de cogumelos secos ingeridos, nomes dos medicamentos, reações adversas, entre outras.


As classes de antidepressivos mais observadas nos registros foram os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), inibidores da recaptação de noradrenalina e serotonina (IRNS), inibidores da recaptação de noradrenalina e dopamina, antidepressivos atípicos, antidepressivos tríciclicos e inibidores da monoamina oxidase (IMAO). Os resultados das análises estatísticas mostraram que os participantes que tomaram psilocibina juntamente com um antidepressivo (em particular os ISRS e IRSN) tiveram uma probabilidade maior de experimentar efeitos psicodélicos mais fracos do que o esperado.


Aqueles que tomaram psilocibina após descontinuar um antidepressivo também relataram efeitos enfraquecidos e os cientistas observaram que isso pode ocorrer em 1 a 3 meses depois do desmame. Outra análise sugeriu que esses achados não foram motivados por casos envolvendo a fluoxetina, um ISRS de meia-vida longa. Também não encontraram evidências claras de que doses maiores de psilocibina possam garantir um efeito melhor nesse contexto. Isso significa que a influência dos antidepressivos na experiência com a psilocibina pode ser duradoura, mesmo após a interrupção do uso desses medicamentos.


Em contrapartida, um estudo recente não mostrou efeitos reduzidos da psilocibina em indivíduos saudáveis ​​que receberam essa substância após 2 semanas de pré-tratamento com escitalopram (ISRS). Entretanto, os pesquisadores acreditam que isso não acontece com o uso crônico dessa classe, algo típico na prática clínica. A dessensibilização (downregulation) do receptor serotoninérgico 5-HT2A pode explicar os efeitos atenuados da psilocibina nos pacientes que fazem uso contínuo de antidepressivos, pois ocorre a diminuição do número desses receptores, além da redução de sensibilidade a serotonina e moléculas análogas. Existem dados consistentes de estudos realizados em animais e humanos que mostram que o tratamento crônico com antidepressivos como o citalopram e a paroxetina leva a esse mecanismo.

Quanto às reações adversas, apenas 110 participantes (5,7%) indicaram que acreditavam ter vivenciado uma evento adverso da combinação entre a psilocibina e um antidepressivo, sendo que 55 (2,8%) afirmaram ter desenvolvido síndrome serotoninérgica, embora os autores não tenham coletado informações se houve hospitalização ou confirmação desse diagnóstico

por um profissional de saúde.

Vale lembrar que nos ensaios clínicos, a psilocibina geralmente não é administrada aos participantes que estão tomando um antidepressivo, pois se acredita que isso tenha impacto na eficácia (a combinação pode diminuir os efeitos da psilocibina) e na segurança (a combinação pode causar eventos adversos). Porém, alguns especialistas dizem que até mesmo o DMT é coadministrado com IMAO na forma de ayahuasca, sem eventos adversos graves. Portanto, é improvável que a psilocibina cause toxicidade, já que esse risco é menor com os ISRS, devido à baixa afinidade da psilocibina pelo transportador de serotonina.


Os pesquisadores da Johns Hopkins ainda ressaltam que se deve discutir previamente a necessidade da retirada de antidepressivos, pois um desmame desnecessário está associado a fenômenos de abstinência e recaída, que podem colocar os pacientes em risco. É possível que por meio da randomização estratificada dos ensaios psicodélicos, a descontinuação desses medicamentos possa ser reduzida ou evitada.

Referências

Gukasyan N, Griffiths RR, Yaden DB, Antoine DG 2nd, Nayak SM. Attenuation of psilocybin mushroom effects during and after SSRI/SNRI antidepressant use. J Psychopharmacol. 2023 Jun 8:2698811231179910. doi: 10.1177/02698811231179910. Epub ahead of print. PMID: 37291890.


Gukasyan N, Yaden D, Griffiths R, Nayak S, li Antoine D. Serotonergic antidepressant use is associated with weaker psilocybin effects. Johns Hopkins Medicine. Center for Psychedelic and Consciousness Research. 2022 Oct 22.


Disponível na íntegra em:

https://www.researchgate.net/publication/364820567_Serotonergic_antidepressant_use_is_associated_with_weaker_psilocybin_effects

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