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Limitações dos ensaios clínicos psicodélicos: uma revisão sistemática
Atualizado: 19 de mai.

Existem diversas limitações envolvendo os ensaios clínicos psicodélicos, como a falha com o cegamento e resultados possivelmente influenciados pela expectativa dos participantes. Para minimizar tais problemas, alguns estudos têm utilizado o placebo ativo, que imita as características e sensações de receber o tratamento em investigação. Entretanto, muitas vezes, os cientistas escolhem uma substância ineficaz em manter o cegamento, já que os efeitos psicodélicos são óbvios o suficiente para revelar a condição do participante. Além disso, muitos indivíduos recrutados nos ensaios clínicos relataram ter alguma experiência prévia com psicodélicos, o que poderia impactar significativamente no cegamento.
Para compreender melhor essas limitações, pesquisadores norte-americanos publicaram uma revisão sistemática que avaliou as condições do grupo controle de todos os ensaios psicodélicos realizados em seres humanos entre 1940 e 2020. Os dados analisados incluíram detalhes sobre o desenho do estudo, tipo de cegamento, psicodélico utilizado, doses, condição do grupo controle, entre outros.
Ao todo, foram incluídos 86 estudos, dos quais 80 possuíam grupo controle. Dentre esses, 49 (61,2%) utilizaram placebo inerte, 16 (20,0%) utilizaram placebo ativo, 12 (15,0%) utilizaram ambos e 3 (3,8%) utilizaram diferentes doses psicodélicas como controle. As condições dos estudos envolvendo a psilocibina incluíram o uso de placebo, placebo ativo (niacinamida), doses baixas de psilocibina, metilfenidato e cetanserina. Houve cegamento na maioria dos estudos (81/86; 94%), embora sua eficácia, avaliada de formas muito variadas, tenha sido geralmente ruim.
Os ensaios psicodélicos revisados subutilizam elementos que poderiam melhorar sua qualidade. Vários aspectos questionados, como a avaliação da integridade do cegamento e detalhes das condições do grupo controle, foram relatados de forma insuficiente.
Os autores também forneceram recomendações para melhorar os métodos de avaliação da ciência psicodélica, tais como:
Avaliar adequadamente a integridade do cegamento dos participantes no mesmo dia da sessão de tratamento, após os efeitos passarem;
Analisar as expectativas dos participantes por meio do Questionário de Credibilidade/Expectativa (QCE);
Utilizar um placebo ativo adequado (como o THC oral) para aumentar a probabilidade do sucesso do cegamento;
Considerar a comparação da totalidade da terapia psicodélica (preparação, suporte durante a dosagem e integração) a uma condição de suporte mínimo, sem esses elementos. Embora possa ser inviável devido ao aumento do risco de eventos adversos, isso pode esclarecer a utilidade do suporte terapêutico, além da quantidade e tipos de sessões necessárias. Se necessário, utilizar um antagonista 5-HT2A (como a risperidona) para minimizar o sofrimento psicológico nas sessões;
Recrutar participantes que nunca utilizaram psicodélicos para manter um cegamento adequado e reduzir as expectativas em relação aos efeitos.
Referência
Nayak SM, Bradley MK, Kleykamp BA, Strain EC, Dworkin RH, Johnson MW. Control Conditions in Randomized Trials of Psychedelics: An ACTTION Systematic Review. J Clin Psychiatry. 2023 May 10;84(3):22r14518. doi: 10.4088/JCP.22r14518.