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Memórias traumáticas: dos circuitos neuronais aos psicodélicos

Indivíduos diagnosticados com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), geralmente testemunharam ou vivenciaram uma ameaça fatal, morte real, lesão grave ou violência sexual. Mais tarde, eles revivem o evento traumático na forma de memórias intrusivas, flashbacks e pesadelos cheios de horror, medo e reações intensas, como falta de ar, palpitação e sudorese, por exemplo. Tudo isto pode causar distúrbios de identidade e regulação emocional, impactando negativamente nos relacionamentos interpessoais. A origem do TEPT envolve alterações nos mecanismos de aprendizado e memória, que são regulados por uma complexa rede neuronal.
Os cientistas sugerem que a característica essencial de um tratamento bem sucedido para este transtorno, é a modificação de engramas em seu estado instável. Os engramas são redes de neurônios que armazenam memórias influenciadas por uma experiência física e que deixam traços comportamentais. Os psicodélicos por meio de interações que envolvem o sistema serotonina-glutamato podem desestabilizar os engramas ligados ao TEPT, possibilitando uma modificação durante a psicoterapia.
A psilocibina, o MDMA e a cetamina demonstram mecanismos múltiplos que podem neutralizar as alterações fisiopatológicas relacionadas ao TEPT e impactar profundamente na reconsolidação da memória traumática. Estas substâncias também possuem efeitos imunossupressores e anti-inflamatórios, que reduzem a secreção de citocinas e a ativação de células imunes, o que pode afetar a formação, reconsolidação e a especificidade das memórias autobiográficas – que estão ligadas às experiências pessoais.
Porém, devemos ter em mente que o uso de psicodélicos neste contexto não é isento de perigos. Estes compostos causam emoções intensas e sentimentos negativos também podem ser vivenciados. Por este motivo, indivíduos com histórico psiquiátrico podem apresentar piora do estado mental. Entretanto, o uso supervisionado em um ambiente clínico e controlado, pode minimizar estas reações adversas.
Referência
Kéri S. Trauma and Remembering: From Neuronal Circuits to Molecules. Life (Basel). 2022 Oct 26;12(11):1707. doi: 10.3390/life12111707.