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Preocupações sobre a reclassificação da psilocibina e do MDMA na Austrália

A partir de julho de 2023, a agência regulatória australiana (Therapeutic Goods Administration - TGA) irá reclassificar a psilocibina e o MDMA, e permitirá que psiquiatras autorizados possam prescrever tratamentos para a depressão resistente e o transtorno de estresse pós-traumático. No entanto, especialistas expressaram preocupações em dois artigos de opinião publicados recentemente no periódico SAGE Journals, nos quais foi afirmado que a TGA cedeu à pressão de lobistas e do público em geral para tomar essa decisão.
Os especialistas destacam que a qualidade dos estudos psicodélicos é variável e apresenta evidências classificadas como baixas ou muito baixas, de acordo com o sistema GRADE de recomendação científica. Existem limitações importantes nos estudos, e os dados de segurança das substâncias ainda não são claros, uma vez que foi observado um aumento da ideação suicida com doses mais altas nos ensaios clínicos.
Outra preocupação levantada é o uso isolado dos compostos de ocorrência natural, como a psilocibina, sem considerar o conhecimento e a prática ancestral dos quais seu uso emergiu. A ausência de representantes dos povos indígenas no campo psicodélico é uma questão importante a ser considerada.
Além disso, o risco de exploração com fins lucrativos também é citado, já que a empresa britânica COMPASS Pathways está conduzindo estudos com uma versão sintética e patenteada da psilocibina (COMP360) para a psicoterapia assistida por psicodélicos (PAP). O uso da COMP360 combinada com a PAP pode resultar em tratamentos de alto custo e criar barreiras de acessibilidade para as classes menos favorecidas. Por isso, é crucial realizar uma avaliação cuidadosa da real necessidade de utilizar a psilocibina sintética e a PAP. Os estudos clínicos até o momento não compararam sua estrutura com as condições mínimas de suporte psicológico e ainda não exploraram o uso dos cogumelos psilocibinos in natura.
Em conclusão, os autores dos artigos de opinião afirmam que a postura da TGA em aumentar o acesso a esses tratamentos experimentais é prematura, pois não levou em consideração seu próprio grupo independente de especialistas, nem os estudos ainda em andamento. Portanto, recomendam aguardar mais informações antes de tomar medidas que possam ter implicações significativas na prática clínica e no bem-estar dos pacientes.
Veja também o post "Uso de MDMA e psilocibina para transtornos mentais: falhas com o acesso na Austrália".
Referências
Kisely S. The down-scheduling of MDMA and psilocybin(e): Too fast and too soon. Aust N Z J Psychiatry. 2023 May 10:486742
31174171. doi: 10.1177/00048674231174171. Epub ahead of print. PMID: 37161273.
Disponível na íntegra em:
Rossell SL, Meikle SE, Williams ML, Castle DJ. Why didn't the TGA consult with Australian researchers and clinicians with experience in psilocybin-assisted psychotherapy for treatment-resistant major depressive disorder? Aust N Z J Psychiatry. 2023 May 3:48674231172691. doi: 10.1177/00048674231172691.
Disponível na íntegra em: