Vital Psilo
Psicodélicos e neuroplasticidade
Atualizado: 23 de dez. de 2022

Os psicodélicos (como a psilocibina) apresentam um potencial no tratamento da depressão, ansiedade e do vício. É importante ressaltar que os efeitos deste tratamento podem durar meses ou anos. Existe uma teoria de que essas melhorias a longo prazo ocorrem porque os psicodélicos estimulam a neuroplasticidade de forma rápida e duradoura.
Mas o que é a neuroplasticidade?
A neuroplasticidade é a capacidade do sistema nervoso de reorganizar sua estrutura e função, e se adaptar ao seu ambiente. Ao longo da vida, a neuroplasticidade é essencial para o aprendizado, memória e recuperação de danos neurológicos, bem como para a adaptação às experiências da vida. Os psicodélicos parecem aumentar a neuroplasticidade através do receptor serotoninérgico 5-HT2A. Estudos em animais mostraram que a psilocibina promove a expressão de genes relacionados à plasticidade sináptica, incluindo os genes precoces imediatos (GPIs) e o Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro (BDNF). Estes estudos mostram efeitos relativamente robustos em regiões corticais e efeitos menores e menos consistentes na neuroplasticidade de outras regiões do cérebro.
Em qual dose a psilocibina aumenta a neuroplasticidade?
Em ratos, a dose de 4 mg/kg induziu alterações relacionadas à neuroplasticidade na expressão gênica, e este efeito também aumentou de forma dose-dependente. Em relação às microdoses, é necessária uma discussão sobre a frequência de dosagem. Embora doses altas de psicodélicos não sejam tomadas cronicamente devido a seus efeitos subjetivos intensos, as microdoses podem ser tomadas regularmente e existem hipóteses de que também aumentam a neuroplasticidade.
Por quanto tempo os psicodélicos aumentam a neuroplasticidade?
O aumento da neuroplasticidade surge em algumas horas após a exposição aos psicodélicos e pode durar vários dias. Em camundongos que foram tratados com psilocibina, a taxa de formação de espinhas dendríticas permaneceu elevada por 3 dias, e retornou aos níveis normais em 5 dias após o tratamento. A janela da neuroplasticidade parece se abrir em poucas horas e pode durar alguns dias, embora as alterações neuroplásticas que ocorrem durante esse período possam durar pelo menos um mês.
A neuroplasticidade aumentada é algo simples que podemos medir ou também tem consequências significativas?
Responder esta pergunta é essencial para entender os efeitos a longo prazo dos psicodélicos, porém, poucos estudos relacionam as mudanças na neuroplasticidade aos resultados comportamentais. Em camundongos cronicamente estressados, a psilocibina fortaleceu as sinapses córtico-hipocampais e reduziu a anedonia (falta de prazer), o que pode ser o resultado de uma força sináptica aprimorada nos circuitos cerebrais de recompensa. Outros estudos relataram melhorias no aprendizado da extinção do medo, além de reduções nos comportamentos ansiosos e da incapacidade de aprendizado, após a exposição aos psicodélicos. Em outro estudo, a psilocibina aumentou de forma duradoura a conectividade entre o córtex pré-frontal e outras áreas do cérebro, incluindo regiões límbicas e subcorticais, e esses aumentos ocorreram juntamente com diminuições no afeto negativo e na ansiedade. Mudanças na neuroplasticidade também podem explicar parcialmente alguns outros efeitos a longo prazo dos psicodélicos, como sua combinação com a psicoterapia.
Conclusões
Pesquisas futuras devem confirmar estes dados preliminares e esclarecer as doses ideais e os efeitos neuroplásticos específicos para os diferentes psicodélicos. Também devem explorar ainda mais as consequências da neuroplasticidade aumentada para os grupos de pacientes e pessoas saudáveis.
Referência
Calder AE, Hasler G. Towards an understanding of psychedelic-induced neuroplasticity. Neuropsychopharmacology. 2022 Sep 19. doi: 10.1038/s41386-022-01389-z. Epub ahead of print. PMID: 36123427.