Raça e etnia moderam a associação entre o uso de psicodélicos e saúde mental

As pesquisas psicodélicas ainda sofrem com a falta de inclusão de minorias étnicas e raciais. Apesar do potencial destes compostos, a maioria dos participantes de ensaios clínicos são brancos, e fatores como raça e etnia podem impactar nos efeitos dos psicodélicos.

Um artigo publicado no periódico Scientific Reports investigou se a raça e a etnia moderam as associações entre o uso de MDMA/psilocibina ao longo da vida e a redução do sofrimento psicológico e da tendência suicida (ideação e planejamento). Foram analisados os dados da população adulta (n = 484.732), coletados entre 2008 e 2019, por meio do National Survey on Drug Use and Health – uma pesquisa de um órgão estatal que providencia informações sobre o uso de drogas e problemas de saúde nos EUA. Os pesquisadores realizaram uma regressão logística multivariada para avaliar cada grupo racial e étnico.

Os resultados da análise estatística mostraram que a raça e a etnia moderaram significativamente as associações entre o uso de MDMA/psilocibina e o sofrimento psicológico e suicídio. Para os participantes brancos, o uso de MDMA e psilocibina indicaram chances reduzidas de todos os resultados associados à angústia e suicídio. Porém, para os participantes pretos, indígenas e multirraciais, o uso de MDMA e psilocibina não foi associado a menores probabilidades de quaisquer desfechos avaliados. Os cientistas também realizaram análises adicionais para verificar se outros psicodélicos clássicos (LSD, peiote e mescalina) podem reduzir as chances de sofrimento psicológico e suicídio entre os grupos étnicos e raciais. Foi observado que apenas o uso de peiote ao longo da vida reduziu significativamente as chances de sofrimento psicológico para os participantes indígenas. Além disso, o uso de mescalina ao longo da vida mostrou menores chances de ideação suicida para os multirraciais. Os autores dizem que o “set” e “setting” podem explicar estes resultados. O “American setting” está enraizado com racismo, preconceito e discriminação, e isto pode ter impactado negativamente a experiência psicodélica das minorias.

Embora existam algumas limitações que não permitam determinar qualquer tipo de causalidade nesses resultados, este estudo demonstra que a raça e a etnia têm um impacto significante nos desfechos de saúde mental relacionados ao uso de psicodélicos. Essas descobertas convidam mais pesquisas sobre o impacto étnico-racial e outros fatores de identidade (status socioeconômico, status de minoria sexual/gênero) nos efeitos psicodélicos.

Referência

Jones GM, Nock MK. Race and ethnicity moderate the associations between lifetime psychedelic use (MDMA and psilocybin) and psychological distress and suicidality. Sci Rep. 2022 Oct 10;12(1):16976. doi: 10.1038/s41598-022-18645-3. PMID: 36216840; PMCID: PMC9551032.