Raça e etnia moderam as associações entre o uso de psilocibina e menores chances de prisão nos EUA

Estudos anteriores indicam que o uso de psilocibina está associado a uma redução nas chances de prisão por crimes nos Estados Unidos (EUA). Porém, uma questão importante permaneceu em aberto: será que essas associações variam entre pessoas de diferentes raças e etnias?

Nesse contexto, pesquisadores das renomadas Universidades de Harvard e da Califórnia conduziram uma investigação utilizando uma amostra representativa da população dos EUA, obtida a partir do National Survey on Drug Use and Health. Eles buscaram entender se fatores como raça e etnia influenciam as associações entre o uso de psilocibina ao longo da vida e quatro tipos de prisões por crimes: crime contra a propriedade, agressão, violência grave e crimes diversos. Foram analisados dados de 734.061 adultos, registrados entre 2002 e 2020.

Inicialmente, os cientistas confirmaram as descobertas de pesquisas anteriores, reforçando que o uso de psilocibina ao longo da vida está, de fato, associado a uma menor probabilidade de prisão por crimes nos EUA. No entanto, ao examinar essas associações conforme a raça e etnia, eles identificaram que todos os grupos étnicos, com exceção dos afro-americanos e hispânicos, apresentavam uma menor probabilidade de, pelo menos, um tipo de prisão por crimes.

Indivíduos brancos tiveram menor probabilidade de prisões por crimes contra a propriedade e violência grave, enquanto pessoas multirraciais demonstraram menor probabilidade de prisões por crimes contra a propriedade, agressão e violência grave. Os indígenas também mostraram uma redução nas chances de prisões por violência grave e crimes diversos, enquanto os asiáticos tiveram menor probabilidade de prisões por agressão.

Como o uso de psilocibina ao longo da vida não conferiu uma menor probabilidade de nenhum dos quatro tipos de prisão para os afro-americanos e hispânicos, os cientistas ressaltam que esses grupos compõem a maioria das pessoas envolvidas no sistema de justiça criminal dos EUA, e que esses resultados refletem as taxas desproporcionais de prisões nessas comunidades.

Vale ressaltar que, devido à natureza correlacional e não causal deste estudo, as explicações acima devem ser interpretadas com cautela. Portanto, é essencial que investigações futuras aprofundem o estudo desses resultados e examinem de maneira mais detalhada os fatores estruturais, como o racismo sistêmico, que podem estar relacionados a esses achados.

Referência

Jones G, Al-Suwaidi M, Castro-Ramirez F, McGuire TC, Mair P, Nock MK. Race and ethnicity moderate the associations between lifetime psilocybin use and crime arrests. Front Psychiatry. 2023 Aug 24;14:1169692. doi: 10.3389/fpsyt.2023.1169692. PMID: 37692301; PMCID: PMC10484513.

Disponível na íntegra em:

https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyt.2023.1169692/full