Representantes indígenas sugerem 8 princípios para orientar a ciência psicodélica
Atualizado: 2 de mar.
Representantes indígenas do Canadá, Colômbia, El Salvador, Estados Unidos, Guatemala, México, Peru e Quênia, se reuniram com ativistas, acadêmicos, advogados e defensores dos direitos humanos para propor um conjunto de diretrizes éticas que orientam a ciência psicodélica.
O editorial publicado na prestigiada revista científica The Lancet sugere oito princípios que abordam os interesses dos Povos Indígenas no que se refere ao uso de psicodélicos: Reverência, Respeito, Responsabilidade, Relevância, Regulação, Reparação, Restauração e Reconciliação. O objetivo é compartilhar um consenso que reúne a Defesa dos Direitos Indígenas, da Mãe Terra e das Tradições Espirituais ao nível regional e internacional, e ainda, pedir que os Povos Indígenas façam parte das deliberações sobre as terapias psicodélicas, treinamentos, desenvolvimento de produtos, entre outros.
Os autores do editorial ressaltam que o renascimento da ciência psicodélica leva a preocupações em relação à apropriação cultural e o patenteamento das medicinas sagradas. Além disso, vozes e lideranças indígenas estão ausentes no campo da pesquisa psicodélica, o qual é atualmente representado apenas por ocidentais.
A apropriação da medicina tradicional indígena pela medicina ocidental moderna infelizmente não é um fenômeno novo, mas sim uma nova etapa do colonialismo e da exploração cultural. Compostos naturais como a ayahuasca, peiote e cogumelos mágicos são utilizados pelos Povos Originários há milênios. Estes produtos são considerados sagrados, sendo usados em cerimônias de cura, com um profundo significado cultural e espiritual. Contudo, a medicina moderna muitas vezes não reconhece a importância dos cultos tradicionais que acompanham a utilização desses compostos.
Nas comunidades indígenas, o uso de psicodélicos costuma ser acompanhado de orações, rituais e orientação de curandeiros experientes, ou seja, todos são componentes essenciais ao processo de cura. No entanto, no ambiente médico, essas práticas são frequentemente descartadas ou ignoradas em favor de uma abordagem mais clínica.
É importante que a medicina moderna reconheça e respeite o contexto cultural e o significado espiritual dos psicodélicos, e trabalhe em colaboração com as comunidades indígenas para obter uma compreensão mais abrangente das práticas de cura que acompanham seu uso.
O artigo está disponível na íntegra em:
https://doi.org/10.1016/j.lana.2022.100410
Referência
Celidwen Y, Redvers N, Githaiga C, Calambás J, Añaños K, Chindoy ME, Vitale R, Rojas JN, Mondragón D, Rosalío YV, Sacbajá A. Ethical principles of traditional Indigenous medicine to guide western psychedelic research and practice. Lancet Reg Health Am. 2022 Dec 16;18:100410. doi: 10.1016/j.lana.2022.100410.