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Uso de MDMA e psilocibina para transtornos mentais: falhas com o acesso na Austrália

Em fevereiro deste ano, a Australian Therapeutic Goods Administration (TGA) aprovou o uso de MDMA e psilocibina para tratar o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e o transtorno depressivo resistente. A partir de julho de 2023, esses dois compostos serão reclassificados do Anexo 9 (Substâncias Proibidas) para o Anexo 8 (Substâncias Controladas), o que permitirá que psiquiatras autorizados possam prescrevê-los.
No entanto, um artigo de opinião publicado neste mês no periódico SAGE Journals argumenta que a TGA cedeu à pressão de lobistas e do público em geral para aumentar o acesso a esses tratamentos experimentais. Embora os resultados dos ensaios clínicos com a psilocibina e o MDMA tenham sido promissores para a maioria dos padrões, ainda não foram gerados níveis suficientes de evidência para justificar a implementação dessas substâncias em larga escala, já que há dúvidas sobre o perfil de segurança a longo prazo e modelos de atendimento.
Os autores do artigo ressaltam que a TGA não consultou os especialistas da área, especialmente no caso da Psicoterapia Assistida por Psilocibina (PAP), pois não existem protocolos padronizados e consensos sobre como as abordagens psicoterapêuticas devem ocorrer. Como resultado, muitas questões permanecem sem resposta: quem será um profissional credenciado ou prescritor autorizado? Quais pré-requisitos são necessários para ser um prescritor?
O treinamento do psicoterapeuta é de extrema importância, mas, até o momento, há um grupo muito pequeno de profissionais de PAP adequadamente qualificados e experientes na Austrália. Também não existem manuais de segurança aceitos ou procedimentos para a PAP, e muitos pacientes podem apresentar eventos adversos que requerem o cuidado e o gerenciamento de uma equipe de saúde multidisciplinar. Os médicos não conseguirão lidar com essas questões trabalhando individualmente, sem o suporte para uma pesquisa contínua.
Além disso, dadas as enormes expectativas positivas do público, é preciso pensar cuidadosamente para garantir que os riscos e benefícios sejam explicados de maneira precisa e uniforme aos pacientes. Até que essas deliberações sejam abordadas em pesquisas empíricas, a decisão de aumentar o acesso público fora dos ensaios clínicos é questionável e preocupante. Os autores do artigo esperam que a TGA considere essas questões cuidadosamente e busque consultas adequadas nos próximos meses, à medida que esses detalhes forem solucionados.
Referência
Rossell SL, Meikle SE, Williams ML, Castle DJ. Why didn't the TGA consult with Australian researchers and clinicians with experience in psilocybin-assisted psychotherapy for treatment-resistant major depressive disorder? Aust N Z J Psychiatry. 2023 May 3:48674231172691. doi: 10.1177/00048674231172691.
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