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Uso terapêutico da psilocibina: considerações práticas

Um artigo de revisão publicado no periódico Frontiers in Psychiatry resumiu as informações da literatura científica sobre o uso terapêutico da psilocibina, que envolve a dosagem, frequência de uso, reações adversas, contraindicações, interações medicamentosas, entre outras.
Muitos estudos já utilizaram 0,2 a 0,4 mg/kg de psilocibina por sessão psicodélica e os protocolos consistem em uma dose única ou duas doses separadas por um período de 3 a 4 semanas, embora os ensaios clínicos atuais tenham mudado para uma dose fixa de 25 mg. Essa abordagem foi validada em uma análise recente de testes anteriores, que não encontrou diferenças significativas em comparação com as doses baseadas no peso corporal.
Quanto ao teor médio de psilocibina nas amostras de Psilocybe cubensis, há um consenso de aproximadamente 1%, portanto, uma dose de 25 mg de psilocibina equivale à 2,5 gramas de cogumelos secos. No entanto, é importante considerar que existem controvérsias e que a potência pode variar em média de 0,5 a 2% entre as diferentes raças de cubensis, e de acordo com as condições de cultivo. Com isso, os autores recomendam que é uma boa prática clínica começar com uma quantidade menor de cogumelo seco, caso o conteúdo real de psilocibina seja maior em qualquer lote, e ainda ressaltam que a administração deve ser acompanhada de psicoterapia para maximizar os benefícios.
Sobre as contraindicações, a maioria se deve ao aumento do risco de sofrimento psicológico, incluindo casos raros de psicose. Por esses motivos, pacientes com histórico de esquizofrenia, transtorno bipolar e síndrome de borderline são geralmente contraindicados para o tratamento. Entretanto, os estudos observacionais futuros podem mostrar um risco-benefício mais detalhado. Como a psilocibina aumenta de forma transitória a frequência cardíaca e a pressão sanguínea, as doenças cardiovasculares não controladas ou graves são consideradas contraindicações relativas. A gravidez e a amamentação também são contraindicadas devido à insuficiência de evidências científicas.
As interações medicamentosas mais comuns com a psilocibina podem resultar em uma experiência psicodélica atenuada ou intensificada. Na teoria, as interações entre as drogas serotoninérgicas podem levar a uma condição rara e grave, chamada síndrome serotoninérgica, na qual a sinalização excessiva de serotonina causa uma reação adversa potencialmente fatal. Mas na prática, foi observado que os antidepressivos tricíclicos podem intensificar os efeitos, enquanto os inibidores da monoamina oxidase e os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) diminuem a intensidade.
Outro estudo recente de pacientes que tomaram psilocibina e faziam uso concomitante de ISRS não apresentou preocupações com a segurança, embora mais investigações aprofundadas sejam necessárias. Os protocolos de ensaios clínicos geralmente exigem a redução gradual e a eliminação desses medicamentos devido à preocupação com a síndrome serotoninérgica, porém, não há muitos casos publicados sobre este evento adverso.
Os pesquisadores concluíram que esses dados são importantes para criar orientações e políticas de uso da psilocibina, à medida que a regulamentação das terapias psicodélicas avança no mundo ocidental. Além disso, a educação contínua dos profissionais de saúde é necessária para garantir a segurança dos pacientes.
O artigo está disponível na íntegra em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyt.2022.1040217/full
Referência
MacCallum CA, Lo LA, Pistawka CA, Deol JK. Therapeutic use of psilocybin: Practical considerations for dosing and administration. Front Psychiatry. 2022 Dec 1;13:1040217. doi: 10.3389/fpsyt.2022.1040217. PMID: 36532184; PMCID: PMC9751063.